Eu sempre gostei de aprender coisas novas. Mas eu gosto mais ainda de aprender novos jeitos de saber e de experimentar o mundo. E foi isso o que aconteceu nessa semana.

Eu me inscrevi para participar do que eu julgava sem um simples seminário, já até preocupado com o grande número de painéis por dia que eu assistiria. Mas o que eu ganhei de presente foi uma das experiências mais transformadoras da minha vida.

Enquanto eu estava lá (chorando, rindo, ouvindo, brindando, brincando, expurgando, experimentando +++), eu pensava em como eu queria que meus amigos estivessem lá, vivenciando todo aquele saber, toda aquela troca. Já que isso não foi possível, trago aqui um pouquinho do que eu gostaria de espalhar por aí.

Agradeço à revista Cult e ao Sesc pelo seminário “Identidades Trans e Travestis”. Aos que querem se aproximar e beber dessa fonte cheia de vida, neste post do perfil da Varanda no Instagram estão as arrobas des painelistes, curadories e artistes que compuseram o evento.

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Numa semana não-qualquer, na primavera de 2023, no Sesc da Lina, aprendemos com Neon Cunha que a cultura trans é uma cultura de liberdade e que todos os seres estão em transição. Céu Cavalcanti trouxe-nos essa clareza: as pessoas trans contagiam, sim. Contagiam com possibilidades; lembram a todes que os corpos são moduláveis.

Sofia Favero, com a ajuda de Jubinha, fez surgir questões (quase) complementares: se ensinamos as crianças a serem cis, podemos ensinar as crianças a serem trans? Podemos nos servir de uma gramática do deboche, uma gramática do sarcasmo? Pedro Ambra entrou no jogo com outras provocações: a adolescência é uma transição de gênero? Como evitar a marcha do orgulho cis?

Fomos alertados. Pela Márcia Tiburi, sobre a destruição perpetrada pelo homem branco e por sua criação, o patriarcado, que assassina os corpos que não interessam ao sistema. Pelo Tulio Custódio, sobre o quão ardilosos são os genocídios, que exterminam violentamente não apenas os corpos, mas as memórias, as linguagens, os sonhos. Por Dan Kaio Lemos, sobre os perigos da esterilidade simbólica.

Raquel Virgínia nos convocou a confrontar a realidade: não temos que ter medo dos dados; para mexer com as estruturas, precisamos conhecer os dados. Com outros dados e histórias, pudemos nos animar. Como quando Uýra Sodoma nos lembrou que as pessoas trans existem muito antes do Brasil. Ou quando Ariadne Ribeiro nos contou como o SUS salvou sua vida. Ou como quando Márcia Rocha nos explicou que quanto mais diverso é um empreendimento, mais bem sucedido ele vai ser.

As constatações sutis – e subjetivas – também encontraram seu lugar. Maite Schneider nos convidou a celebrar o luxo de poder escolher o próprio nome. Carolina Iara nos espalhou no tempo para mostrar que, para a comunidade travesti, sair à luz do dia é ainda algo recente. Giovanna Heliodoro nos fez estranhar o fato de que as mulheres trans raramente são chamadas para conhecer a sogra.

Tivemos os espíritos alimentados ao ouvir Majur Harachell Traytowu dizer, com seu jeito direto e sereno: “para mim é tranquilo ser cacique e ser trans na minha comunidade”. O futuro também deu suas caras quando Leonardo Peçanha nos apontou para um horizonte de luta, sim, mas também de afeto; ou quando Vi Grunvald nos advertiu que política não é apenas sobre conscientizar, mas sobre afetar.

E quando parecia que não era possível deixar nossos corações ainda mais desejosos de mudança, Benny Briolly veio e acendeu o fogo: “Está nascendo um novo mundo!”. E fomos embora depois de ver esse fogo ser espalhado pela força e pela vontade política do fenômeno Erika Hilton.

O que está aqui escrito aqui neste texto é apenas uma brevíssima amostra do que compartilharam conosco as mais de 60 pessoas que subiram ao palco para falar. É apenas uma mínima parte do que foi ouvido e multiplicado pelas centenas de pessoas na plateia. Para finalizar (ou para começar), compartilho uma frase que se alojou aqui nas minhas entranhas. Ela pode, a princípio, parecer um pensamento sobre gênero, ou talvez sobre ecologia. É isso também. Mas se você ler com calma, algumas repetidas vezes, respirando bem entre as palavras, você vai ver que é muito mais que isso:

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As crônicas com a tag “Isso foi uma pergunta?” são escritas pelo Ulisses Belleigoli e também estão disponíveis no perfil do Instagram @aquinavaranda.

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