Você também aprendeu a “não ser mulherzinha”? Ou a “não se sentar como um moleque”?

No final do ano passado, fiquei muito sensibilizado com o livro “Linha, labirinto”, no qual a poeta Mônica de Aquino, junto com alguns outros convidados, versa sobre Penélope (a da Odisseia). Entre as tantas perguntas que me ocorreram durante a leitura, uma vingou: o quanto de uma mulher é feito de “não sou um homem”. E, logo, o quanto de um homem é feito de “não sou uma mulher”. 

Já faz um tempo também, assisti um episódio de “Gilmore Girls” em que a Lorelai se pergunta: “eu gosto de tal coisa porque eu realmente gosto, ou porque minha mãe não gosta?”. E isso deu um nó na cabeça dela. E na minha também. Me perguntei (e me lembrei) de tantas coisas que talvez eu tenha odiado somente porque alguém que eu odiava gostava daquela coisa. 

O contrário também acontece: de amarmos algo porque alguém que amamos gosta muito daquilo; mas isso é mais confortável. Incômodo mesmo é quando nos damos conta de como alguém de quem não gostamos pode definir nossas escolhas. Por que eu torço para o time que torço? Por que eu me recuso a ver filmes desse diretor? Por que desprezo esse tipo de diversão? Por que insisto em ignorar esse conhecimento? Por que amo essa ideologia? Por que me incomodo com os fãs dessa banda? 

Você também tem um amigo de direita/esquerda que escolheu esse posicionamento político porque a mina que ele gostava lhe deu um pé na bunda para ficar com o boy do posicionamento político oposto?

Uma das coisas que mais tenho gostado de acompanhar é a discussão sobre gênero. Sobre gêneros não-binários. Sobre ter mais de um gênero. Sobre não ter nenhum. Sobre inventar um gênero novo. Sobre um gênero neutro. Sobre ignorar os conceitos de gênero. Sobre como escrever as palavras de um jeito que elas não sejam nem masculinas, nem femininas. Sobre o sim não ser o oposto do não. Sobre a possibilidade de a palavra homem não ter nada a ver com a palavra mulher.

O que de mim é feito de “nãos” e o que de mim é feito de “sabe-se lá o que vou inventar…”?

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As crônicas com a tag 
“Isso foi uma pergunta?” são escritas pelo Ulisses Belleigoli e também estão disponíveis no perfil do Instagram @aquinavaranda.

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