“O que a autora quis dizer?”. Se você frequentou uma escola no Brasil, certamente você já foi assombrado por essa pergunta em um livro didático ou, pior, em uma prova. Outro dia li pela milésima vez uma queixa na internet: “as pessoas não sabem interpretar o texto”. Logo percebi que havia ali algo de verdadeiro, mas tratei de me incluir entre as pessoas que sabem, sim, interpretar textos. Porém, em seguida, me perguntei: “será que sei? Eu sei o que a autora quis dizer?”.

Fiquei pensando que, durante a infância, nos ensinam tanto que há uma interpretação correta do texto (principalmente na escola) que acabamos acreditando nisso. Bem, é claro que a autora quis dizer alguma coisa, e é claro que grande parte dos textos têm uma mensagem para ser interpretada comumente por suas leitoras. Contudo, é muito fácil perceber que, muitas vezes, há quem acredite que sua leitura é a única possível. Alguns vão ao extremo de pensar que, justamente porque fizeram uma interpretação coerente do texto ou da fala de alguém, essa interpretação é a única possível. Existe isso? Um texto que tenha uma única leitura? Leitura e interpretação são coisas distintas? Como?

Por um outro lado, penso também no tempo em que vivemos, em que as pessoas tanto reclamam de serem mal interpretadas? Isso é um outro jeito de dizer que não querem ser interpretadas de um jeito que não seja o seu? De onde vem esse medo? Por que queremos tanto que entendam exatamente o que estamos querendo dizer? Isso vale para as poetas?

Em última instância, o que é mais importante: o que eu quis dizer ou como fui entendida?

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As crônicas com a tag “Isso foi uma pergunta?” são escritas pelo Ulisses Belleigoli e também estão disponíveis no perfil do Instagram @aquinavaranda.

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