CinemaProva dos 9

9 FILMES PARA RAPAZES QUE SE APAIXONAM POR RAPAZES

Usei dois critérios para escolher os 9 filmes desta lista. O primeiro foi: eu indicaria esse filme para um homem jovem gay que estivesse tentando entender e gozar de sua sexualidade. O segundo critério foi: algum personagem do filme, em algum momento, se vê apaixonado por um homem. Você vai notar que a lista é bem heteronormativa, mas é porque eu quero fazer uma lista mais queer em um futuro próximo, como o Tatuagem anuncia lá no final.

1. Hoje eu vou voltar sozinho

O filme do diretor brasileiro Daniel Ribeiro é um desdobramento de seu curta-metragem “Eu não quero voltar sozinho” e conta a história de dois adolescentes que se apaixonam na escola. Uma das coisas que eu mais gosto nesse filme é a sua temática ordinária (quem nunca se apaixonou na escola?) tratada de maneira peculiar: os personagens têm nuances delicadas e inteligentes, o que faz com que a sexualidade não fique presa a uma ideia de orientação sexual.

dois meninos adolescentes brancos, sentados em cadeiras de praia, à beira da piscina. Eles estão sem camisa. Um coloca protetor solar na mão do outro. Ao fundo, uma mata.
Hoje eu vou voltar sozinho (de Daniel Ribeiro, Brasil, 2014)

2. Contracorrente

Esse filme é um desses filmes queridos, que eu já vi várias vezes. Ele fala de um amor que é alimentado aos poucos, nos encontros entre Santiago (artista/fotógrafo) e Miguel (pescador /lindo). A história dos dois é ambientada em um vilarejo pesqueiro no Peru, e esse é um dos charmes do filme, pois esse cenário, juntamente com os maravilhosos personagens coadjuvantes, ajuda a destacar a relevância das pequenas escolhas diárias que compõem os caminhos do amor. Para nós, brasileiros, ainda há alguns “easter eggs” a serem encontrados.

em uma construção inacabada, um homem branco de camisa xadrez abraça um outro homem branco, de roupa social e gravata.
Contracorriente (de Javier Fuentes-León, Peru, 2009)

3. O segredo de Brokeback Mountain

Esse é, sem dúvida, um dos filmes com temática LGBT com maior penetração no circuito de cinema e entretenimento. As atuações de Michelle Williams, Heath Ledger e Jake Gyllenhaal lhes renderam diversas indicações (Oscar, Globo de Ouro, SAG awards, entre outros). Para mim, uma das belezas do filme é ver um amor que se sustenta ao longo de décadas, o que é muito bem retratado no filme, que vai fazendo curvas entre momentos de tesão, de angústia, de leveza e de tristeza.

dois homens jovens brancos de chapéu de caubói numa momento afetuoso: um abraça o outro por trás. Seus rostos estão em close.
O segredo de Brokeback Mountain (de Ang Lee, EUA, 2005)

4. Pecado da Carne

São muitos os filmes que retratam a difícil relação entre a homossexualidade e os dogmas religiosos. O que eu acho que diferencia o roteiro de “Pecado da Carne” é a maneira como essas discussões são colocadas. Aaron (açougueiro), o protagonista do filme, é um judeu ortodoxo que se vê diante de um desejo inegável: o amor por seu aprendiz, Ezri. No entanto, sua religião lhe oferece muitas justificativas e vantagens para quem nega seu desejo. Para quem gosta de teologia, ou para quem se encontra em prisões semelhantes à de Aaron, as conversas sobre tentação e pecado são uma diversão à parte.

dois homens jovens brancos com vestimentas de judeus ortodoxos (roupas pretas e chapéus pretos) estão sentados sob uma árvore em uma paisagem árida
Pecado da Carne (de Haim Tabakman, Israel, 2009)

5. Strapped

Esse é um filme menos conhecido do grande público, talvez até mesmo por sua pegada mais erótica (o que infelizmente ainda é um tabu para o circuito de cinemas – e para a sociedade). Mas foi um filme que me tocou por dois motivos: o primeiro é porque ele é um filme de estrutura, ou seja, a forma como o filme é dirigido por Joseph Graham segue uma lógica em que as repetições vão desvelando novas ideias (para o público e para o personagem principal). O segundo motivo é porque eu acho que o roteiro consegue articular muito bem fantasias, experiências sexuais, desejo e amor; tarefa nada simples.

um rapaz branco de vinte e poucos anos está sem camisa, com os braços para cima, sensualizado. Os pelos de suas axilas e seu mamilo estão à mostra.
Strapped (de Joseph Graham, EUA, 2010)

6. Do começo ao fim

O filme de Aluizio Abranches se aventura em um tema polêmico: o incesto. Mais além, o diretor se arrisca a mostrar a relação entre dois irmãos desde a infância. O lugar comum poderia nos inclinar a achar que esses elementos, por si só, já tornariam o filme “pesado” ou “difícil”. Contudo, o romance de Thomás e Francisco é conduzido de maneira leve e profunda: apesar de se dar em um contexto atípico e com complicações (as quais são discutidas durante filme), o amor entre os dois é o eixo que organiza o filme, de modo que é quase impossível não torcer para a felicidade do casal.

um jovem branco com espuma de barbear no rosto é observado por outro. Ambos sorriem.
Do começo ao fim (de Aluizio Abranches, Brasil, 2009)

7. Praia do Futuro

Sobre esse filme, vou falar apenas três coisas que fazem amá-lo, mas são três coisas que considero muito importantes em qualquer filme. Um: os três atores (Wagner Moura, Clemens Schick e Jesuíta Barbosa) dão um show de interpretação. Dois: é um filme que confia nas imagens para contar a história; você precisa se entregar ao que vê na tela, para além do que está sendo dito. Três: o filme tem um clima, uma atmosfera… e ela entra dentro de você. Advertência (para quem tem problemas com ritmo): é um filme lento e acelerado. Convite: as cenas de sexo são convidativas.

três homens jovens brancos vestidos com roupas de frio encaram a câmera
Praia do Futuro (de Karim Aïnouz, Alemanha-Brasil, 2014)

8. Moonlight – sob a luz do luar

Se eu pudesse resumir esse filme em duas palavras, elas seriam: beleza e visibilidade. A primeira palavra – beleza – é porque o filme é bonito: os atores e as atrizes são bonitos, entregam interpretações bonitas, em cenários bonitos, com fotografia bonita, tudo alinhavado pela direção bonita de um roteiro bonito. A segunda palavra – visibilidade – é porque o filme tem um lugar importante na história não só do cinema, mas de comunidades historicamente oprimidas: é o primeiro filme com temática LGBT a ganhar o Oscar de melhor filme. É o primeiro filme em que todos os atores são negros a ganhar o Oscar de melhor filme.

o rosto de um homem negro é composto de três pedaços de cores diferentes. Cada pedaço é o rosto de um homem diferente, mas eles se unem perfeitamente na imagem em tons de verde, roxo e azul.
Moonlight – sob a luz do luar (de Barry Jenkins, EUA, 2016)

9. Tatuagem

Esse filme é uma joia. Gosto de tudo nele: da direção, dos atores (especialmente de Rodrigo García no papel de Paulete), do contexto que o filme propõe, da direção de arte, das músicas, dos manifestos intelectuais e estéticos. Quando vi o filme pela primeira vez, saí da sala de cinema e fui vagar pelas ruas de São Paulo, com o peito cheio de expectativas, com vontade de amar e de criar coisas novas. Sobre o que é o filme? Sobre um soldado que se encanta com a vida de um pobre cabaré no nordeste brasileiro durante a ditadura militar. É um filme para pensar e cantar junto.

dois homens jovens brancos com os rostod de perfil. Um deles está sem camisa e tem um flor atrás da orelha. Ambos tem cabelos crespos de volumosos.
Tatuagem (de Hilton Lacerda, Brasil, 2013)

Ulisses Belleigoli é psicanalista, escritor e professor, mas gosta mesmo de ser chamado de contador de histórias. Gosta de cinema, copa do mundo, poesia e ficção científica. É um dos anfitriões da VARANDA.

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