Sua mãe te pede para ver o que está acontecendo com o celular dela? Seu pai reclama que não sabe o que está acontecendo com a televisão, que não sintoniza? Sua avó precisa que você a ajude a entender o e-mail que recebeu do banco?

Você já deve ter passado por essas situações, de ter que auxiliar seus pais ou avós em uma tarefa com “as tecnologias”. Eu acho essa troca muito bacana, pois sou muito grato pelas tantas lições importantes que aprendi com meus pais, tios e avós. Fico feliz de agora poder ensinar-lhes coisas que não aprendi em um curso, mas também com a minha experiência de vida.

Mas a pergunta que eu ando me fazendo – e fazendo a você – é: além de ensinar alguns atalhos digitais para nossos genitores, também precisamos educá-los?

Eu gosto de brincar com meus amigos – principalmente quando os pais estão dando muito pitaco na vida deles – perguntando: “você está educando seus pais?”. É claro que, nesse contexto, estou me referindo a questões pessoais, porque os pais precisam reaprender a lidar com os filhos à medida que eles crescem (especialmente sobre limites), e eu acho que “educar” é um bom verbo para esse gesto, que pode ser uma ação ativa de quem é filho.

Mas eu também ando pensando muito na educação social dos pais. Tenho ouvido muitos relatos de amigos que já não sabem o que fazer com pais que acreditam em tudo que leem no whatsapp, são alvos fáceis de teorias da conspiração e de fake news. Alguns surpreendem-se ao ver entes queridos flertando com ideias fascistas e preconceituosas.

Este ano, mais uma vez, por conta das eleições municipais, essas questões virão à tona com toda força. E a pergunta está mais do que feita: “como educar pais que ainda não aprenderam (ou talvez tenham se esquecido, ou abandonado) os valores democráticos, o respeito para com outros seres humanos, a justiça social e a honestidade?”.

Os pais, com frequência, têm dificuldade de ouvir e aprender com os filhos. Principalmente porque acham que sabem mais, afinal de contas, assistiram os filhos passar pelas ignorâncias mais crassas de cada fase da vida. Às vezes, essa surdez também é medo de perder alguma autoridade que julgam ter, ou de decaírem para um lugar de menos prestígio. Os motivos podem ser muitos (muitos mesmo).

Mas  um deles me parece ser bem humano (e já muito bem representado na literatura e no cinema em diversas culturas): muitas pessoas, ao envelhecerem, OPTAM por ser ignorantes. Decidem não aprender mais, escolhem não tentar compreender as novas gerações, elegem o seu saber como verdade e – por vezes – fazem esforços para destruir as pessoas que escolheram outros caminhos, mais abertos e com mais novidades, mais inteligências.

Se você passa por isso com seus pais, talvez seja uma boa ideia pensar em como educá-los. Já adianto que você não vai conseguir sozinho (assim como nenhuma mãe ou pai educa um filho sem ajuda). Sugiro contar com o auxílio de amigos e instituições, até porque os pais tendem a ouvir mais os amigos dos filhos do que os próprios filhos (já passou por isso, né?). Por isso, considere ajudar seus amigos com os pais deles também.

Talvez você esteja pensando: “eu, educar gente que já devia ter aprendido coisas básicas? Tá doido, é?”. Eu penso nisso com frequência também. Mas assim como a educação das crianças e adolescentes é uma tarefa coletiva, que interfere nos caminhos que nossa sociedade toma, a educação dos adultos e dos velhos também é.  Eles têm poder político, financeiro, moral e cultural. Se forem um bando de mimados conservadores, isso tem impactos reais e desastrosos no mundo (é só ler as notícias do dia para se certificar da dimensão do estrago que velhos mal-educados – e também os mal intencionados – causam).

Fica aí então o convite para a importância de se educar os pais (os nossos e os dos outros). Talvez um convite meio insólito. Mas também pode ser  um caminho com muitas possibilidades de beleza e de novas descobertas. 

Vou terminar essa crônica com duas citações muito conhecidas, mas que nunca perdem sua sabedoria e seu valor. Ambas saídas da cabeça de quem pensou muito em como educar o mundo para a justiça e para a paz.

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.”

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.”

Paulo Freire

Os textos do “Isso foi uma pergunta” são escritos pelo @ulisses.belleigoli, que é um dos anfitriões da @aquinavaranda

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