Depois de comer uma colherada de feijão puro, ele falou: “nossa, que feijão bonito!”. O autor da frase foi uma criança de 7 anos. Os colegas de classe, mais ou menos da mesma idade, riram, pois estranharam – assim como eu o fiz – a construção inusitada. 

Eu, entrando na conversa, perguntei (não por curiosidade, mais na tentativa de uma correção qualquer, sabe-se lá por quê): “está gostoso, o feijão?”. O meu aluno, parecendo bem convicto do seu parecer, repetiu: “está lindo!”

A insistência daqueles adjetivos me chamou a atenção. É claro, temos adjetivos muito ricos para qualificar nossos alimentos, mas aqueles também me pareceram muito expressivos. Fiquei pensando que a visão e a audição comportam bem esses adjetivos. “Que voz linda!”, “Que desenho bonito!”. Mas para o tato, o paladar e o olfato, algo muda. 

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Depois do ocorrido, passei a ouvir mais destacadamente quando alguém diz que algo é lindo, ou bonito. “Nossa, que comida linda!” – será que tem mais de um sentido nessa exclamação? Um cheirinho bom, talvez? “Uma das praias mais bonitas que já vi!” – será que entrou na conta o vento, a temperatura, a maresia?

Quando você diz: “que texto bonito!”, você está falando das palavras, das ideias, ou da sensação que você sentiu?

O quão misturado de sentidos – em vários sentidos – é o seu bonito?

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As crônicas com a tag “Isso foi uma pergunta?” são escritas pelo Ulisses Belleigoli e também estão disponíveis no perfil do Instagram @aquinavaranda.

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