9 artistas para viajar o mundo (sem sair do quarto)
Recebi essa lista com empolgação, não vou mentir, porque o Gabriel, autor deste post, já me passou bastante recomendação musical deliciosa. São nove indicações de artistas para passear pelo mundo sem sair de casa – coisa crucial no momento, já que não é brincadeira nenhuma enfrentar a atual pandemia. Do Congo à Coreia do Sul, vem conferir o que cada um oferece de história e de música!
Ao final do post, tem playlist prontinha no Spotify para você. Esse parágrafo aqui é uma pequena invasão minha, Laís, anfitriã da Varanda. Agora, com a palavra, o autor:
Christine and the Queens (França)
Nos últimos anos, Chris tem ganhado cada vez mais espaço na música pop, estando presente nas principais listas de melhores músicas e álbuns do ano de 2018 com seu álbum Chris. Ela já começou a nova década sendo criticamente aclamada com o EP La vita nuova, lançado no início deste ano. Com apenas 13 minutos, o projeto reúne batidas sintetizadas, composições intimistas, números de dança bem elaborados e uma história de amor, superação e seres mitológicos pintada nas construções pitorescas de Paris através de um curta-metragem, disponível no YouTube. Fora isso, seja performando no reality show RuPaul’s Drag Race ou experimentando com a música eletrônica ao lado de Charli XCX, sua crescente popularidade apenas reforça o quão pronta ela está para ser alçada ao sucesso. Antes que você se pergunte: Christine and the Queens é um projeto solo. O “queens” do título é apenas uma homenagem ao trabalho das drag queens francesas, que a inspirou a ingressar na carreira musical.
Ms Nina (Argentina)
Se a sua playlist inclui Pabllo Vittar, Anitta ou qualquer parceria com o J Balvin, talvez seja hora de você ser apresentado à nossa hermana Ms Nina. Jorgelina Andrea (seu nome real) começou a carreira artística como ilustradora de arte kawaii nas redes sociais. Em poucos anos, ela estava expondo em galerias de arte argentina e alcançando o primeiro lugar nas paradas de sucesso locais. A cantora mistura estilos populares como o trap, o hip-hop e o reggaeton para fazer canções perfeitas para balançar a raba. Tendo Madonna como principal inspiração, Ms Nina acredita que parte importante de suas músicas é a reivindicação da sexualidade e da autonomia do corpo feminino: “Mulheres também se sentem sexy, mulheres também querem se sentir bonitas, também ficamos tristes, também queremos transar, também ficamos bêbadas. […] É parte do que Nina é e é parte do que as mulheres podem ser ou sentir.”
Gepe (Chile)
De dedilhados solitários num violão à uma sinfonia dos mais variados instrumentos para fazer uma batida pop: o chileno Gepe já assumiu várias roupagens ao longo de sua carreira. Com mais de cinco álbuns lançados, Gepe se consolidou como um dos principais nomes da música chilena contemporânea. Suas canções estão profundamente enraizadas na cultura do país, tendo como principais influências a renomada compositora Violeta Parra e Victor Jara, cantor assassinado durante a ditadura militar, cujas canções foram amplamente revividas durante os protestos que assolaram o Chile em 2019. Seu projeto mais recente é um resgate aos ritmos tradicionais e à obra da pesquisadora Margot Loyola que, ao lado de Violeta Parra, é uma das grandes responsáveis pelo estudo e preservação da memória do folclore chileno.
Melissa Laveaux (Canadá/Haiti)
Laveaux tem o dom de traduzir assuntos denso para músicas melódicas e poéticas – não importa se o assunto seja sua sexualidade, sua negritude ou a ascendência. Nascida de imigrantes haitianos no Canadá, hoje a cantora reside na França, mas nunca esteve tão próxima de suas raízes. Seu projeto mais recente, o álbum Radyo siwèl, é fruto de uma extensa pesquisa histórica sobre as manifestações e expressões culturais tradicionais do Haiti, muitas delas que se perderam no tempo ao serem suprimidas durante a ocupação norte-americana no país, entre 1915 e 1934. Ao longo de três álbuns, a cantora experimentou com estilos como o folk e o blues, sem nunca deixar de lado os dedilhados na guitarra, que já são quase uma marca registrada. Agora, através da voz de Laveaux, a cultura crioula é resgatada e celebrada.
San Cisco (Austrália)
Em 2012, o álbum homônimo de estreia da banda já rendeu certa notabilidade, emplacando alguns sucessos como a engraçadinha Awkward e a dançante Fred Astaire. Ao longo dos anos, o romantismo adolescente low-fi – confiante em seus constrangimentos e incertezas – deu lugar para um estilo, um visual e uma produção mais madura. No entanto, a banda nunca perdeu a irreverência: as composições bem-humoradas embalam clipes em que os integrantes patinam vestidos de lycra brilhante ou têm tardes românticas com vampiros. Descontraído e leve, com versos que parecem sempre estar na ponta da língua, o grupo usa os vocais, os sintetizadores, o teclado, a guitarra e a bateria para construir uma discografia que se assemelha à beleza e à melancolia de um dia quente e abafado de verão.
Postcards (Líbano)
Nessa altura da carreira, Postcards já pode ser considerado um produto de exportação da música alternativa libanesa. As influências são bem nítidas já nos primeiros acordes: a atmosfera etérea e introspectiva do dream pop e do shoegaze, dois estilos musicais muito populares entre as décadas de 80 e 90. O grupo bebe das mais variadas fontes, com inspirações que incluem Slowdive, Françoise Hardy e o trabalho de Juile Cruise para a série Twin Peaks. Para além das referências, outro elemento latente nas composições são as diversas crises políticas enfrentadas pelo Oriente Médio. Para os integrantes, o álbum mais recente, o The Good Soldier, lançado em 2020, é fruto do conflito entre recuar e revidar, tirando o foco da melancolia e dando espaço para a raiva. Sobre a capa, que traz um ambiente doméstico aparentemente pacífico, enquadrado por uma moldura de cor sólida, a banda reflete: “em meio à escuridão, espaços seguros se materializam”.
Shortparis (Rússia)
“Depois do jogo de interpretações, a essência continua a mesma: um estado de ansiedade crescente, não articulada e comum a todos”, é assim que a banda explica o clipe da música “Strashno” (em português, “medo”), que extrapolou as fronteiras russas e fez sucesso pela Europa. Não é preciso entender russo para entrar em sintonia com a banda. Forjado no frio intenso da Sibéria, em uma cidade famosa por seus jardins de flores artificiais que resistem ao congelamento, o grupo de rock experimental borrou linhas, brincou com alegorias e símbolos e encontrou uma saída para escapar da censura e opressão sistemáticas sofrida pelos artistas no país. Ao criar uma espécie de bagunça semiótica, tanto em seus clipes quanto em suas letras, a banda parece ser vigilante sobre uma coisa em especial: o perigo de associações rápidas e simplistas.
KOKOKO! (República Democrática do Congo)
Com batidas únicas e vocais energéticos, o KOKOKO! tem conquistado corações ao redor do globo desde sua formação em 2016. Tanto que o título de “sensação afrofuturista” veio bem antes do lançamento do álbum de estreia: o Fongola, de 2019. O principal diferencial da banda está na forma como suas músicas são produzidas: através de instrumentos originais, feitos a partir de material reciclado. Entre os utensílios musicais do grupo estão: uma máquina de escrever e tubos de ventilação que servem como bateria; e um tocador de fitas cassete, que, aliado a um sintetizador analógico e a um cano de chuveiro, funciona como uma espécie de auto-tune. Vale a pena conferir essa orquestra DIY!
K.A.R.D. (Córeia do Sul)
O tão falado K-Pop possui diversas portas de entrada – para mim, foi o clássico e extinto grupo 2NE1. Os interessados em entender um pouco da obsessão que dominou o mundo nos últimos anos talvez possam recorrer ao K.A.R.D. como uma alternativa palatável para adentrar o universo do pop coreano. Um aspecto que destaca o grupo dos demais é a sua formação mista, sendo integrado por duas mulheres e dois homens. Com o conceito girando em torno de cartas de baralho, os lançamentos da banda às vezes incluem “cartas ocultas”, que podem ser versões das músicas em inglês ou clipes centrados apenas na coreografia. No Brasil, o grupo é um sucesso e sempre faz algo para agradar os fãs quando passam por aqui. Eles já chegaram até a cantar e dançar músicas de artistas brasileiras, como Anitta e IZA. Isso sim é fan service!
(O WordPress está de gracinha e não deixou a incorporação da playlist neste post, mas você pode acessá-la clicando aqui.)
Gabriel Duarte é jornalista e cineasta. Já integrou a Turma do Fundão da revista Mundo Estranho. É um amigo querido, com um dom especialmente afiado em dar ótimos presentes de aniversário.